quarta-feira, 7 de março de 2012

Mudanças climáticas ameaçam 900 espécies de aves tropicais

Pesquisadores consideram que o Tangará é símbolo do risco que a biodiversidade corre


Tangará é o símbolo da biodiversidade em risco Guilherme Serpa/1-9-2011
As mudanças climáticas podem causar a extinção de 900 aves de regiões tropicais em todo mundo até o fim do século, adverte estudo recém-publicado na revista “Biological Conservation”. O Brasil será um dos países mais afetados — cerca de 20% das espécies do Cerrado podem desaparecer, de acordo com estimativa de Cagan Sekercioglu, professor de biologia da Universidade de Utah, um dos autores do trabalho. Sua pesquisa levou em consideração o cenário no qual a temperatura média do planeta subirá 3,5 graus Celsius, calculando o impacto deste aquecimento nas florestas, o habitat das aves, e considerando ainda a destruição de vegetação pela atividade humana. O estudo apresenta dados para as discussões sobre o impacto do crescimento econômico sobre a diversidade biológica do planeta, um dos temas chaves da Rio+20, a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, que será realizada em junho.
Com cerca de 1.600 espécies, o Brasil é um dos países mais ricos do mundo em aves, tendo 16% das dez mil espécies de todo o mundo, de acordo com informações de Sekercioglu:
— Grande parte destas espécies são da Amazônia, que, com as mudanças climáticas, deve ficar mais seca e menos florestada, com substituição de vastas áreas por Cerrado. Isso ameaçará várias aves.
A Mata Atlântica brasileira também abriga vários pássaros ameaçados de extinção. Muitos deles vivem em áreas serranas, que sofrerão grande impacto com o aumento das temperaturas. Os pesquisadores calculam que cada grau de aquecimento signifique o desaparecimento de cem a 500 espécies.
— Estas aves não encontrarão o clima do qual precisam quando houver aumento das temperaturas. Elas não conseguirão ir a locais mais altos, podendo ser extintas. Um exemplo é o saudade-de-asa-cinza (Tijuca condita) — citou o pesquisador.
O símbolo do risco que a biodiversidade do planeta está correndo com a perda de tantas espécies, para Sekercioglu, é o tangará. Das 45 variedades deste pássaro, as que vivem na Amazônia e no Cerrado são as mais vulneráveis. Eles precisarão encontrar algum local seguro para continuar sobrevivendo em um planeta mais quente.
— A fragilidade dos tangarás mostra a importância de haver uma área tropical na qual os pássaros consigam encontrar as condições de sobrevivência — alertou. — Precisamos planejar para garantir locais adequados para os quais as espécies ameaçadas de extinção consigam ir.
Não basta escolher qualquer lugar como área de proteção. É preciso avaliar quais serão os impactos do aquecimento global. No Brasil, Sekercioglu sugere que a Mata Atlântica, onde as florestas se desenvolvem em áreas serranas, abrigue mais unidades de conservação para as aves.
Além das aves, a pesquisa ressalta que o impacto do aquecimento global deverá ser grande na diversidade de mamíferos e anfíbios. Os pássaros, porém, são considerados bons indicadores das mudanças que estão por vir com o aumento de temperatura do planeta. De acordo com os cientistas, observadores de aves podem dar o primeiro alerta sobre mudanças.
— Além dos pesquisadores, os observadores de aves também vão para campo e multiplicam os relatos do aparecimento de pássaros. Desta forma, é possível fazer um mapeamento bem abrangente dos locais em que as aves foram vistas — explica o membro do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, o ornitólogo e observador de aves Fernando Pacheco. — As máquinas de fotografar digitais facilitaram o trabalho. O portal WikiAves é um exemplo disto, ainda que a distribuição dos observadores pelo território natural não seja equitativa. Em São Paulo, há mais de mil. No Acre, são poucos.
Fonte: O Globo


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