Segundo a ONU, o mundo perdeu mais de US$ 2 trilhões em duas décadas por causa de desastres
Sebastien Nogier/Reuters |
A imobilidade do planeta para frear as mudanças climáticas e reduzir os desastres naturais ocorridos entre a Eco-92 e a Rio+20, que começou nesta quarta-feira, 13, custou ao mundo mais de US$ 2 trilhões, o equivalente a quase todo o PIB brasileiro, segundo estudo divulgado pela ONU.
No Brasil, quase 21 milhões de pessoas foram afetadas desde 1992. Os prejuízos seriam mais que suficientes para pagar por todos os estádios da Copa de 2014.
Diante do impasse nas negociações no Rio de Janeiro, a representante especial da ONU para redução de riscos de desastres naturais, Margareta Wahlstrom, alertou que nos últimos 20 anos 1,3 milhão de pessoas foram mortas e 4,4 bilhões fora afetadas, dois terços do planeta.
“Os números contam a história”, alertou. “Espero que a conferência leve em consideração as perdas que o planeta sofreu nos últimos 20 anos desde a última conferência.”
Para ela, os governos precisam encarar a realidade dos impactos humano e econômico desde a Eco-92. “Desde aquele ano, vimos prejuízos econômicos recordes, um número enorme de pessoas mortas e milhares de deslocados, feridos e que perderam suas casas por conta de eventos extremos, alimentados pela rápida urbanização, pobreza e degradação ambiental”, indicou ela.
Em termos de desastres, o que afetou um maior número de pessoas no mundo foram as enchentes, atingindo 2,4 bilhões de pessoas. Já as tempestades foram as que deixaram o maior rastro de prejuízo: US$ 720 bilhões em 20 anos.
No entanto, os dados mostram uma realidade ainda mais curiosa. As localidades com mais perdas econômicas não são aquelas situadas onde a população foi mais afetada.
Em termos de impacto humano, o maior número é o da China, com 2,5 bilhões de pessoas afetadas por desastres naturais. A Índia, com 928 milhões de pessoas afetadas, e Bangladesh, com 136 milhões, estão entre os líderes. Nenhum país desenvolvido está entre os dez locais onde a população mais sofreu, o que revela o impacto do investimento.
O Haiti, por conta do terremoto que sofreu, é o local que contou o maior número de mortos, foram 230 mil. A Indonésia vem em segundo lugar, com 185 mil, seguida por Mianmar, com 139 mil.
Já os maiores prejuizos econômicos foram registrados justamente nos países ricos. Nos Estados Unidos, as perdas chegaram a US$ 560 bilhões em 20 anos. No Japão, foram outros US$ 402 bilhões. “Esses números de pessoas afetadas e prejuízos são chocantes quando se considera que isso significa oportunidades perdidas, vidas destruídas, perdas de moradia, de escolas e de saúde, além dos prejuízos culturais e das estradas destruídas”, disse.
Proposta. Para a representante da ONU, o mundo precisa ir além. Ela sugere que a conferência do clima estabeleça metas realistas, e com prazos. “Isso garantirá que erradiquemos o disperdício de recursos humanos, sociais e econômicos”, disse. “Temos os meios. Sabemos fazer”, insistiu.
A ONU já aprovou há cinco anos um plano de ação para reduzir o impacto de desastres e preparar ações para prevenir áreas em risco. Mas muitos governos jamais o implementaram. Até o ano passado, o governo brasileiro havia engavetado o plano, agiu apenas quando a região serrana no Rio de Janeiro foi destruída por enchentes e deslizamentos de terra.
No total, os custos do desastres no Brasil somaram US$ 6,9 bilhões. 20,6 milhões de pessoas foram afetadas por chuvas, secas e deslizamentos. Mais de 3 mil morreram desde 1992.
Nos últimos dez anos, só as enchentes no Brasil custaram nove vezes mais que o investimento feito pelas autoridades para evitar mortes. Esse prejuízo milionário pode ameaçar até mesmo plano de desenvolvimento no País nas próximas decadas.
Um ranking elaborado pela ONU estima que o Brasil é o 13º país mais vulnerável no que se refere às enchentes no mundo. Por esse ranking, o Brasil é o 18° país no mundo que mais sofreu prejuízos econômicos a cada ano por conta das chuvas nos últimos dez anos. O País é ainda o primeiro da América Latina. Em termos de deslizamentos, o Brasil é o 14º mais vulnerável.
Agência Estado
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