terça-feira, 20 de novembro de 2012

PNUMA: Risco país deveria levar em conta fatores ambientais


Análise de cinco nações, incluindo o Brasil, destaca que a degradação do chamado capital natural, como a perda de florestas, deveria ser considerada no cálculo do valor dos títulos soberanos

Que a degradação ambiental e a perda de recursos naturais têm impacto na economia ninguém duvida, mas um novo relatório do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA) e da Global Footprint Network alerta que esses fatores atualmente não são considerados quando se avalia a solidez de uma nação. Assim, muitos países, incluindo o Brasil, podem apresentar um risco maior do que o apontado por agências internacionais.

Para entender do que o PNUMA está falando, é preciso saber o que são títulos soberanos. Em termos leigos, são títulos emitidos por governos nacionais para serem negociados no mercado e significam uma fatia da dívida da nação. Quando aparecem notícias como “Agência de risco eleva nota do Brasil”, isso significa que os títulos soberanos brasileiros oferecem mais garantias de que não perderão valor e que poderão ser renegociados com facilidade.

Atualmente, os títulos soberanos respondem por 40% do mercado global de títulos e são uma das principais opções para investidores. Em 2010, mais de US$ 41 trilhões estavam distribuídos em títulos dos mais diversos países.

O que o relatório “A New Angle on Sovereign Credit Risk - E-RISC: Environmental Risk Integration in Sovereign Credit Analysis” sugere é que a perda de solos, florestas e cardumes, assim como a exploração irracional de outros recursos naturais, deveriam ser levados em conta na hora de se avaliar o risco país. 

O documento aponta que isso traria uma maior transparência para os investidores e refletiria melhor a realidade. Também serviria para incentivar os governos a realizarem ações de sustentabilidade e preservação.

“Chegou a hora de um melhor entendimento da conexão entre o risco ambiental e o risco dos créditos soberanos. Somente então os investidores, as agências de risco e os governos serão capazes de planejar efetivamente o crescimento econômico de longo prazo com estabilidade”, afirmou Achim Steiner, diretor executivo do PNUMA.


Brasil

O relatório apresenta uma metodologia para calcular o risco país que leva em conta a “Pegada Ecológica” versus a “Biocapacidade”. Assim, é avaliado o quanto o país explora seus recursos com relação ao quanto eles estão disponíveis. Foram analisadas cinco nações: Brasil, França, Índia, Japão e Turquia.

Os autores acompanharam fatores como: padrões no consumo de recursos, a importância destes recursos para a economia do país e a habilidade do governo em lidar com o aumento do preço das commodities.

Entre as descobertas, está a estimativa de que uma variação de 10% nos preços das commodities pode causar mudanças na balança comercial do país de até 0,5% do PIB. Uma queda de 10% na produtividade de recursos naturais afetaria ainda mais a balança, em até 4% do PIB, graças à necessidade de aumentar a importação. 

Em sua análise do Brasil, o relatório afirma que nossa pegada ecológica triplicou entre 1961 e 2008, mas ainda assim o ecossistema brasileiro gera mais recursos e serviços do que a demanda do país. Porém, o relatório destaca que os preços dos recursos naturais continuarão a crescer nos próximos anos e as mudanças climáticas devem afetar padrões de chuva, reduzindo a produção agrícola.

O documento reconhece que apesar de o aumento dos preços das commodities ser um risco, o país está em posição de absorver esses choques. Entretanto, os autores alertam que a distância entre a “Biocapacidade” e a “Pegada Ecológica” está diminuindo.

O grande problema para o Brasil é a dependência da sua economia da exploração e exportação de recursos naturais. Assim, ao invés de estar em uma posição confortável, já que possui 20 vezes mais biocapacidade que o Japão, por exemplo, o país apresenta riscos moderados.

“Mais e mais países dependem de recursos que seus ecossistemas não podem providenciar. Essa tendência acirra a competição global pelos recursos limitados e representa um risco para os investidores em títulos soberanos e para as nações que emitem tais créditos. Uma metodologia que leve esses fatores ecológicos em conta é, assim, do interesse de todos”, concluiu Susan Burns, fundadora do Global Footprint Network. 

Fonte: Instituto Carbono Brasil 

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