quarta-feira, 9 de maio de 2012

Mudanças climáticas são causa secundária de perdas materiais e vidas, revela estudo


A força das águas oriundas do Rio Muriaé rompeu o asfalto na BR-356, estrada que liga Campos à Itaperuna, próximo ao município de Sapucaia, interior do estado do Rio, no início do ano Leonardo Berenguer/ Ag Ururau

São bem terrenas as causas dos desastres naturais que se multiplicam no Brasil, revelam novas pesquisas. Após um 2011 de devastação na Serra na Fluminense, enchentes avassaladoras no Sul e no Sudeste e um início de 2012 com a pior seca em três décadas no Nordeste, não resta lugar para o mito de que este é um país imune aos desastres naturais. Na verdade, somos muito vulneráveis. Mas as mudanças climáticas que alteram padrões temperatura e chuva pelo planeta afora, não são as maiores culpadas pelo aumento de tragédias naturais no Brasil. A principal causa de perdas de vidas e bens é humana; é a urbanização galopante e mal planejada, como mostram dados apresentados ontem na Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC), cujo tema é Ciência para o Desenvolvimento Sustentável, num evento preparatório para a Rio+20.

O dados fazem parte de estudo da resseguradora Swiss Re, que analisa o número e o impacto de desastres naturais em todo o mundo. Na conta dos desastres, os céus entram com a chuva que alimenta as enchentes relâmpagos, mas o que pesa e torna as pessoas realmente vulneráveis são as construções em áreas de risco evidente, como estradas, ferrovias, estádios e outras obras de vulto levadas a cabo sem considerar cursos de rios, áreas de baixada — por definição, alagadiças — e pontos sujeitos a desmoronamentos.

A representante da Swiss Re no evento da ABC, Claudia Garcia de Melo, destacou que, no Brasil, alagamentos e enchentes representam a maior parte dos 34 grandes desastres naturais registrados em dez anos. Esses desastres provocaram US$ 2,8 bilhões em perdas.

— O grande problema é que o Brasil ainda não tem uma cultura de prevenção. As pessoas acham que uma tragédia dessas nunca acontecerá com elas, se consideram imunes. Então, quando a chuva vem e leva tudo, ficam desorientadas. Mas não é o caso de culpar os céus, mas, sim, a falta de planejamento — afirmou Claudia, que fez a apresentação durante a sessão Desastres Naturais.

De acordo com o relatório, de 2004 a 2010, o Brasil investiu US$ 280 milhões em prevenção, ou seja, em obras e em tecnologia de previsão e remoção de áreas de risco, por exemplo. No mesmo período, o governo brasileiro gastou US$ 2,6 bilhões em ajuda emergencial a cidades afetadas por cheias e desmoronamentos.

— Hoje só agimos depois das tragédias. Seria bem mais barato evitá-las. O gerenciamento do risco é o caminho mais econômico e eficiente. Ações emergenciais não resolvem o problema, mantém a vulnerabilidade — explica a analista.

Hoje, 30 milhões de pessoas vivem expostas a algum tipo de risco de desastres naturais no país, a maioria no Sudeste. Em 2030 serão 42 milhões de brasileiros nessa situação. O problema maior está nas cidades, onde vive a maioria da população e existe a maior parte das situações de perigo. Só as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo sofreram 20% das perdas nacionais com enchentes. Quase todas, evitáveis.

— Urbanização e crescimento econômico que leva à construção de mais rodovias, hidrovias, ferrovias, estádios etc. estão associados à vulnerabilidade. A questão não é crescer, mas crescer de forma sustentável. Principalmente, nas cidades — diz Claudia. — É preciso ter códigos de construção adequados, dragagens de rios, contenção de encostas.

A análise apresentada mostrou que as mudanças climáticas representam uma ameaça maior à população dos estados do Sul e do Nordeste, devido ao aumento dos episódios de chuva intensa. O Nordeste nos últimos anos tem vivido uma situação paradoxal. Enchentes devastadoras na Zona da Mata e seca intensa no Caatinga.

— No Sudeste, as mudanças climáticas não têm tanto peso. Aqui é a urbanização sem planejamento que deixa a população vulnerável.

A associação das mudanças climáticas com a urbanização pode ter efeitos graves inclusive em áreas com baixo índice de urbanização, como a Amazônia. Os modelos de previsão climática conseguem prever com precisão as cheias dos grandes rios. Mas isso não será suficiente se padrões climáticos extremos continuarem a ser registrados na Amazônia, alerta o climatologista Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Nos últimos cinco anos, a Amazônia passou por três eventos extremos: uma enchente (2009) e duas grandes estiagens (2005 e 2010).

— A Amazônia deve estar em alerta. Se este padrão de extremos continuar, os igarapés não poderão continuar a ser ocupados e teremos que mudar o planejamento da região — afirma Nobre.

Fonte: Globo Ciência

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