quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Carbono de queimadas históricas na Mata Atlântica ainda está sendo liberado nas águas


A Mata Atlântica já foi, em conjunto com a Amazônia, uma das maiores florestas tropicais do mundo, abrangendo 1,3 milhões de quilômetros quadrados. Ainda hoje, o bioma é considerado um dos mais biodiversos, apesar de estar reduzido a cerca de 7% da sua área original (em fragmentos maiores que 100 hectares).

Após séculos de exploração, grande parte do carbono estocado na Mata Atlântica já teria sido liberado por queimadas, seguindo seu ciclo nos diferentes componentes da biosfera. Agora, um novo estudo publicado no periódico Nature Geoscience sugere que esse carbono esta na realidade ainda sendo aos poucos liberado para os rios depois de ter ficado décadas e até séculos armazenado no solo. 

Pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Universidade Federal Fluminense e do Instituto Max Planck, no artigo 'Fluxo continuo de matéria orgânica dissolvida proveniente de um bioma florestal tropical desaparecido`, estimaram a quantidade de carbono negro (black carbon),  uma fonte significativa de matéria orgânica dissolvida (MOD), gerado pela queima da Mata Atlântica usando registros históricos de cobertura do solo, dados de satélites e taxas de conversão. O carbono negro é  um produto da combustão incompleta de combustíveis fosseis e biomassa.

"Estimamos que antes de 1973, a destruição da Mata Atlântica gerou de 200 a 500 milhões de toneladas de carbono negro. Após isso, calculamos a quantidade de carbono negro exportada do remanescente florestal entre 1997 e 2008 usando medidas de carbono negro aromático policíclico coletadas de um grande rio da região e registros contínuos da sua vazão", explicaram os pesquisadores, se referindo ao rio Paraíba do Sul, cuja área total de 55400 km² passa pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiroe Minas Gerais.

A conclusão dessas analises é que matéria orgânica dissolvida (MOD) continua a ser encontrada na bacia todos os anos na estação chuvosa, apesar da queima generalizada da floresta ter acabado em 1973.

"Estimamos que o rio exporta 2.700 toneladas de MOD para o oceano anualmente. Ampliando estas conclusões, calculamos que entre 50 mil e 70 mil toneladas de MOD são exportadas da antiga floresta a cada ano", enfatizam.

Dada a meia vida do material, os pesquisadores afirmam que levará entre 630 e 2200 anos para que apenas metade do carbono negro deixe os solos da região, ou seja, o impacto da destruição de uma floresta é algo tão complexo que pode levar séculos para se dissipar.

Eles também ponderam que, atualmente, o plantio de cana de açúcar é um dos responsáveis pela liberação do carbono negro, porém os pesquisadores concluíram que isto não seria condizente com a quantidade encontrada.

O pool de MOD é um enorme estoque global de carbono, portanto, compreender seus fluxos é essencial em se tratando de mitigação das mudanças climáticas.

Há indícios que a quantidade de carbono negro entrando nos oceanos na forma de MOD esteja prejudicando ecossistemas marinhos, porém é preciso mais pesquisas nesta área. 

Ainda pairam muitas duvidas sobre o que acontece nestes processos, e especialmente como o aumento da concentração de carbono negro pode afetar a vida microbiana, que é a base da cadeia alimentar marinha.

Fonte: Instituto Carbono Brasil


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