terça-feira, 17 de abril de 2012

Rio de Janeiro recebe a C40, reunião de cúpula com prefeitos de 40 metrópoles para discutir mudanças climáticas


Jay Carson, diretor-executivo da C40, que é o fórum de prefeitos das 40 cidades mais importantes do mundo para discutir sustentabilidade Agência O Globo / Gabriel de Paiva


O Rio de Janeiro se tornará a capital mundial da sustentabilidade em junho, com a realização da Rio+20. Paralelamente, a cidade abrigará, entre os dias 17 e 19 do mesmo mês, no Forte de Copacabana, mais um evento voltado para o tema: o C40, reunião de cúpula com prefeitos de 40 metrópoles para discutir mudanças climáticas. O presidente da conferência será o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que tem como consultor Jay Carson, diretor-executivo do C40 e que está no Rio para acertar os últimos preparativos.

Em entrevista, Carson disse que, além de uma agenda, também sairão do encontro ações concretas. No Rio, ele destacou projetos como o Bus Rapid Transit (BRT) e as famosas “laranjinhas” do programa de compartilhamento de bicicletas da Zona Sul. Disse ainda ter ficado impressionado com a visita que fez ao Centro de Operações da prefeitura. Para cidades em desenvolvimento, como o Rio, Carson apontou como desafios a política de transporte e os investimentos em coleta seletiva de lixo. Ele chamou a atenção para o papel de destaque das cidades nas questões de meio ambiente. Dados do C40 mostram que metade da população mundial vive em cidades, que consomem dois terços da energia produzida e respondem por 70% das emissões de gás carbônico.

Qual foi o propósito de criar o C40?
JAY CARSON: Desde que o evento foi fundado, em 2005, a maior parte dos líderes das megacidades se juntou ao C40. Agora temos 59 das maiores cidades do mundo trabalhando no processo de mudanças climáticas. O impacto do compartilhamento das melhores ideias das maiores cidades do mundo pode ser enorme, em termos de diminuição da emissão de gás carbônico e redução do efeito estufa. O que vai bem no Rio pode ser passado para Nova York; o que vai bem em Los Angeles pode ser transmitido para Paris. Por exemplo, na última vez em que estive no Rio, visitei o Centro de Operações (da prefeitura). Logo após a visita, enviei um e-mail para os prefeitos de Nova York e Los Angeles, dizendo que eles precisavam ver aquilo, que tínhamos que aprender mais com o sistema. Primeiro, porque o centro ajuda a cidade a fluir melhor. Mas também ajuda em termos de adaptações, ou seja, eles estão preparados para a ocorrência de um fenômeno climático de uma forma que outras cidades no mundo não estão. Fiquei bastante impressionado, e outras cidades podem aprender com isso.

São dois eventos sobre sustentabilidade ocorrendo paralelamente. Como um complementa o outro?
CARSON: A Rio+20 não é necessariamente sobre clima. Já o C40 vai ter foco na questão climática. Chefes de estado e de governos locais, além de especialistas no tema estarão no mesmo lugar e poderão se encontrar informalmente para tomar um café e conversar. O que as cidades fazem é muito mais concreto, mais prático. Nós atuamos em nível local, enquanto que a Rio+20 discute questões mais amplas. É possível tocar e ver o que as cidades estão fazendo para criar um mundo mais sustentável e melhor para se viver. Não estou dizendo que as questões internacionais sobre sustentabilidade não são importantes, de forma alguma. Nós desejamos que esse processo tenha todo o sucesso, esperamos que haja um acordo. Mas nós somos diferentes.

Que avanços práticos o C40 já conquistou?
CARSON: Uma série de projetos e programas foram implementados com a parceria do C40. A nossa organização colabora com expertise para a implementação das políticas públicas. E, quando não temos expertise, ajudamos a encontrá-la. É uma parceria. Se Los Angeles quer implementar o programa de compartilhamento de bicicletas e o Rio tem um sistema bem-sucedido, o que vamos fazer é conectar as cidades e ajudá-las a transmitir o conhecimento. O Bus Rapid Transit e o ônibus híbrido elétrico (que reduz a emissão de gases do efeito estufa) começaram a ser instalados em Bogotá com a parceria do C40. Algumas cidades europeias também estudam o ônibus elétrico. Inclusive o Rio tem projetos neste sentido que contaram com o apoio do C40.

Esse intercâmbio tem continuidade ou se estabelece apenas durante o encontro?
CARSON: O trabalho continua depois. Fazemos os contatos, nos conhecemos, os conhecimentos são apresentados aos representantes das prefeituras e as coisas continuam caminhando a partir daí. No Rio de Janeiro, por exemplo, existe uma comissão que trabalha de forma integrada com a prefeitura no desenvolvimento de projetos e programas sustentáveis.

Na abertura da plenária da última edição do C40, em junho passado, o presidente da cúpula, Michael Bloomberg, assinou um acordo com o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. O objetivo é facilitar o acesso das megacidades ao fundo do banco na área climática, que atinge cerca de US$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 11,9 bilhões) por ano. Como funciona essa parceria?
CARSON: A parceria com o Banco Mundial criou uma janela de entrada para facilitar o financiamento para as megacidades. O Banco Mundial é uma organização enorme. Até conseguir chegar ao objetivo, o representante de uma cidade teria que ligar para dezenas de pessoas, teria que preencher centenas de papéis. E essas pessoas não têm tempo para isso. O Banco Mundial vai facilitar o acesso ao financiamento, diminuir os entraves burocráticos.

Mas isso já ocorreu na prática?
CARSON: Nós assinamos o acordo em junho e, desde então, estamos fazendo ajustes. O pacto vai além da teoria, mas ainda não temos uma política pronta para ser posta em prática.

Quais serão os temas centrais da próxima edição do C40?
CARSON: Nossos temas centrais serão baseados no que as próprias cidades apontaram como suas necessidades. Entre os temas, certamente estão créditos de carbono; transporte, o qual abrange uma série de questões, como transporte de massa, compartilhamento de bicicletas; resíduos, no sentido de se criar um sistema mais eficiente de coleta seletiva; água; e eficiência energética. Participam do fórum cidades com níveis diferentes de desenvolvimento. Por exemplo, quando se fala de sustentabilidade no Brasil, o tema da pobreza não pode ser descartado.

Como lidar com prioridades distintas entre as cidades?
CARSON: A maioria dos integrantes das outras edições ficou surpresa com a quantidade de semelhanças entre as cidades e com a quantidade de programas que podem ser divididos entre uma cidade em desenvolvimento e uma cidade mais desenvolvida. Nenhuma cidade é exatamente a mesma, o que fazemos nesta organização é nos conhecer e perceber as nossas necessidades. Mas as pessoas são frequentemente surpreendidas com o quanto é possível propor uma troca em ambas as direções. Todas as cidades têm problemas com transporte e com eficiência energética. Além disso, em algumas cidades, um projeto é implementado não apenas por questões ambientais, como pode ocorrer numa mais desenvolvida. Por exemplo, o foco da criação do BRT no Rio de Janeiro não é a redução do efeito estufa, e sim oferecer um meio de transporte mais eficiente para a população chegar ao trabalho. E adivinha o que ele ainda faz? Tira carros da rua, ele cria uma cidade mais habitável.

Quais são as prioridades das cidades em desenvolvimento?
CARSON: Na América Latina, está ocorrendo um grande avanço na área de transporte, como em São Paulo, em Bogotá, no Rio de Janeiro, em Buenos Aires. É possível dizer que essas cidades estão na vanguarda do mundo. Mas ainda há muito a ser feito nesse setor nessas e em outras cidades. Já na Cidade do México, o C40 auxiliou no fechamento de um lixão. Eu diria que as prioridades dessas cidades são investimentos em transporte e manejo de resíduos, com a intensificação da coleta seletiva.]

Fonte: O Globo

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