Paulo de Tarso Lara Pires, engenheiro florestal, advogado, é mestre em Economia e Política Florestal pela UFPR e doutor em Ciências Florestais (UFPR). Pós-doutorado em Direito Ambiental e Desastres Naturais na Universidade de Berkeley – Califórnia.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O presidente que luta contra um desastre ambiental


Mohamed Nasheed, das Ilhas Maldivas, é personagem de filme que mostra como o aquecimento global pode destruir um país


Mohamed Nasheed, presidente das Ilhas Maldivas
The New York Times
Para as pessoas que vivem em zonas de clima temperado, como regiões interioranas e zonas industriais do ocidente, o aquecimento global gera uma ansiedade que pode beirar o pânico, mas de uma maneira quase impossível de se notar. O inverno sutil que a costa leste enfrentou este ano pode ter parecido um sinal ameaçador, embora tenha providenciado um clima agradável, e na maior parte do tempo outros problemas sociais, econômicos e políticos parecem ter tido uma importância muito maior do que a sobrevivência humana.

Existe também um grupo de pessoas que formou uma subcultura propensa a gerar controvérsia a respeito da mudança climática e da preservação do meio ambiente, dizendo que o aquecimento global não passa de farsa. Uma conspiração liberal! Como se tudo não passasse de um esquema idealizado por cientistas gananciosos e organizações internacionais que procuram fazer com que nós tenhamos culpa por nossos carros e sacolinhas de supermercado!

Em outras regiões do mundo, no entanto, a questão é mais alarmante. "The Island President" (O Presidente da Ilha, em tradução literal), um documentário de Jon Shenk, visita as Ilhas Maldivas, um arquipélago de cerca de 1.200 ilhas localizadas no Oceano Índico, das quais cerca de 200 são habitadas. O país é descrito como "o céu na Terra", com suas praias de areia branca e águas cristalinas que se tornaram um refúgio para turistas ricos. Mas embora o filme possua imagens aéreas e submarinas espetaculares da beleza das Ilhas Maldivas, ele foca a maior parte de sua atenção em uma realidade menos agradável.

Durante 30 anos o país foi governado por Maumoon Abdul Gayoom, um ditador que adotava uma postura autoritária de prender, torturar e aterrorizar todos os seus adversários. Entre eles estava Mohamed Nasheed, que depois de anos como ativista pró-democracia e prisioneiro político foi eleito presidente, aos 41 anos de idade, em 2008.

Assim que assumiu o cargo, Nasheed enfrentou uma crise ambiental catastrófica. O aumento constante do nível dos oceanos causado pelo derretimento do gelo polar e o aumento das temperaturas globais já haviam gerado graves casos de erosão em algumas ilhas do arquipélago e a eventual inundação desta pequena e vulnerável nação está começando a parecer inevitável ao invés de apenas assustadoramente plausível.

Shenk e sua equipe tiveram acesso livre ao gabinete de Nasheed durante seu primeiro ano no poder e o "Presidente da Ilha" parece registrar a energia, por vezes quase caótica, de um líder jovem e ambicioso diante de enormes desafios. Informativo, o vídeo compartilha diversas informações de um ponto de vista privilegiado, como por exemplo ao revelarem entrevistas feitas com Nasheed, imagens de seus conselheiros e de sua esposa intercaladas com cenas da agitada vida de um político pós-moderno. Nasheed se reúne com membros de seu gabinete e assessores ambientais britânicos, participa da filmagem de anúncios de serviço público (incluindo um em que estar em uma reunião embaixo d'água, filmado utilizando um equipamento de mergulho), faz pausas para fumar um cigarro e viaja para uma série de conferências sobre a mudança climática.

A última delas, a Cúpula contra a Mudança Climática de Copenhague, dá ao filme o seu clímax, à medida que Nasheed se torna uma peça fundamental em uma série de complexas negociações que ele esperava poderem levar a um acordo internacional sólido para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. Embora o filme apresente um relato razoavelmente claro sobre as questões técnicas envolvidas - não há muita discussão sobre quais são os graus aceitáveis de aquecimento, centímetros de aumento do nível do oceano e o quanto de dióxido de carbono é despejado no ar - ele também foca em alguns dos rituais de poder e diplomacia que ocorrem no século 21.

Nasheed, um homem sério, bonito, bem vestido e bem-educado parece se sentir em casa neste mundo da alta política mundial, embora seja muitas vezes criticado por seus aspectos pouco funcionais. Ele é um debatedor ágil que tem uma forte presença de câmera e que parece combinar seu jeito infantil de ser com uma certa auto-confiança tecnocrática.

Em Copenhague - e alguns meses antes, em uma sessão da ONU em Nova York - ele tentoi usar sua autoridade moral como líder de uma pequena nação em perigo para trazer alguns dos políticos mais céticos e cautelosos do mundo em desenvolvimento para o seu lado. Mas as complexidades geopolíticas são assustadoras e os obstáculos estruturais para poder realizar qualquer tipo de mudança parecem impor cada vez mais dificuldades.

Nasheed também enfrenta dificuldades em casa, embora além da elevação dos oceanos, nenhuma pareça tão importantes para ele quanto o meio ambiente. Até que após a narrativa somos informados que ele foi forçado a deixar o poder no mês passado, mais de dois anos após a conclusão das filmagens. Outra nota relata que, naquela época, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera continuaram a aumentar.

O otimismo é da natureza dos líderes políticos, especialmente dos democráticos, e insistir que soluções podem ser encontradas até mesmo para os problemas mais difíceis faz parte disso. Documentários que lidam com assuntos politicamente engajados, principalmente aqueles feitos por cineastas americanos, também possuem essa tendência, oferecendo uma certa garantia implícita, mesmo que acabem falando a respeito das más condições do mundo em que vivemos. A conscientização virá à tona. Os progressos necessários serão feitos. Duvidar disso pode soar como cinicismo.

"The Island President" é positivo o suficiente para impedir que isso aconteça. É impossível torcer contra Nasheed ou a acreditar que ele vai fracassar enquanto assistimos o documentário. Mas a esperança que este filme gera faz com que a experiência de sair do cinema e contemplar um iminente desastre que os líderes mundiais parecem ser incapazes de evitar um pouco perturbadora.

Assista ao trailer do filme: 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Economia verde opõe países ricos aos emergentes




A divergência entre priorizar crescimento econômico ou proteção ambiental marcou a reunião ministerial da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na semana passada, e ilustrou um confronto entre países ricos e emergentes que deve ter continuidade na conferência Rio+20, em junho, no Rio.

A OCDE reuniu ministros de Meio Ambiente para definir a mensagem que seus países-membros, ditos os mais desenvolvidos, vão levar ao Rio, e convidaram alguns emergentes - Brasil, China, Indonésia, Rússia, África do Sul e Colômbia - para a discussão. No final, os emergentes não endossaram a declaração ministerial, com exceção da Rússia, que está em processo de adesão à entidade e aceita tudo pelo momento.

A divergência de enfoque ficou patente. Os países desenvolvidos estão muito centrados no princípio de "economia verde", que consideram um dos meios para alcançar desenvolvimento sustentável, econômico, comercial e ambiental. Só que o social fica um pouco a reboque e não tem a mesma ênfase, segundo países como o Brasil.

Para vários ministros, instrumentos econômicos - taxação, encargos, imposto sobre poluição, eliminação de subsídios que prejudicam o meio ambiente - são importantes, mas os países precisam de regulação mais efetiva para acelerar a mudança de comportamento. Uma ideia que volta é a da cobrança do custo real do uso de recursos naturais, por exemplo, da água, que ficaria bem mais cara.

O "Policy Statement" dos países da OCDE para a Rio+20, destaca ainda que comércio e investimento não devem ser barreiras ao crescimento verde ou desenvolvimento sustentável. Nas discussões, na semana passada, a Coreia do Sul mostrou uma visão mais mercantilista que a europeia, por exemplo. O objetivo parece ser a derrubada de barreiras para vender equipamentos modernos que ajudariam a adaptação industrial.

Para os emergentes, o problema é que a OCDE quer atrelar demais a expansão econômica à proteção ambiental, o que exige priorizar investimentos enormes em equipamentos, pesquisas, renovação de indústrias, filtrar tudo, fechar usinas sujas e substitui-las por novas. "Não é o ambiental que puxa o desenvolvimento, é o desenvolvimento que puxa o ambiental", diz um negociador emergente.

A avaliação é que a receita dos desenvolvidos, que já tem capacidade instalada, regras ambientais e crescimento limitado, provocaria crescimento menor e a um custo muito maior para os países em desenvolvimento. Os emergentes voltaram a pedir que a OCDE demonstre quanto custaria a adaptação ao "crescimento verde". A entidade diz que isso é difícil, mas que no longo prazo todos ganham com economia forte e limpa.

Os emergentes concordam, mas insistem que a prioridade no contexto atual é continuar crescendo para aumentar a inclusão social, criar mais empregos, entre outras ações. "Isso passa à frente, não adianta falar de tecnologia sofisticada se for nos custar demais ou desacelerar o processo de inclusão social, distribuição de renda", diz uma fonte dos emergentes.

Embora sem endossar o texto da OCDE, o Brasil conseguiu incluir no texto uma menção à "economia verde inclusiva", numa nuance em relação ao "crescimento verde".

Por Assis Moreira | De Genebra para o Valor Econômico

Catástrofes naturais em 2011 atingem custo recorde


Tragédia no Japão foi a grande responsável pelo elevado número de mortes em
catástrofes naturais em 2011


O ano passado registrou um total de 820 catástrofes naturais, resultando em uma perda econômica recorde de US$ 380 bilhões. O número de eventos foi também maior que a média anual de 790 casos entre 2001 e 2010, mas pelo menos o número de mortes teve uma redução.

Foram 27 mil em todo o mundo, contra a média de 73 mil fatalidades entre 1980 and 2010 - com o agravante de 2010 ter tido um recorde de 296 mil mortes, número alavancado pelo forte terremoto que aconteceu no Haiti. Os dados foram compilados pela Munich Reinsurance Company e analisados pela série de Sinais Vitais do Instituto Worldwatch.

De acordo com o geógrafo Petra Löw, autor do trabalho, a influência do fenômeno La Niña, oposto do El Niño, em que ocorre o resfriamento das águas do Oceano Pacífico, foi a principal causa dos eventos extremos.

O terremoto seguido de tsunami no Japão, no começo do ano, foi o principal responsável pelas mortes em 2011 por esses eventos - 62%. Esse fato específico talvez possa explicar a diferença gritante em relação a 2010. E expõe o fato de que as populações pobres são as mais vulneráveis a essas tragédias.

Fonte: Agência Estado


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